O primeiro projeto da Rede CpE, finalizado em 2016, foi a realização de um levantamento de todos os pesquisadores doutores atuantes no Brasil, de qualquer área da ciência, cujas linhas pesquisa tivessem aplicação ou alguma interface com a educação. O projeto teve por objetivo principal mapear os grupos de pesquisa com potencial em ciência para educação e então convidar esses pesquisadores a integrar a Rede CpE. Através desse projeto, foi possível aumentar nosso quadro de membros pesquisadores, que hoje chegam a mais de 80. Ele também foi o ponta pé inicial necessário para a para a criação da Plataforma CpE, nossa ferramenta online e gratuita de busca em ciência para educação.

O censo foi desenvolvido pela pesquisadora da Rede CpE Daniele Botaro em parceria com o cientista da computação Jesus Mena-Chaco, da Universidade Federal do ABC. A busca pelos grupos de pesquisa se deu a partir da identificação de pesquisadores doutores líderes em suas áreas, o que foi feito por meio de uma análise dos currículos disponíveis na Plataforma Lattes e no Banco de Teses e Dissertações da CAPES. A Plataforma Lattes é o mais completo repositório de currículos de pesquisadores do Brasil, com mais de 4,5 milhões de perfis acadêmicos cadastrados, sendo 6,35% de doutores. Já o Banco de Teses e Dissertações da CAPES contém todos os documentos produzidos por alunos de mestrado e doutorado no país em qualquer área de atuação.

A busca por pesquisadores foi feita com o uso de ferramentas digitais como o ScripLattes e o Guephi, programas que extraem automaticamente os dados dos currículos. A primeira procura, baseada em 250 palavras-chaves ligadas à educação e à ciência, gerou um grupo inicial 102 mil perfis de pesquisadores. A este grupo foram aplicados filtros para refinar os resultados.

Alguns dos critérios estabelecidos foram: (1) mínimo de cinco de orientações concluídas, com o objetivo de identificar grupos de pesquisa já estabelecidos e atuantes com ação direta na formação de recursos humanos; (2) ter publicações com pelo menos um dos termos previamente estabelecidos relacionados à educação e ciência, nos últimos 10 anos e (3) possuir colaborações com outros grupos de pesquisa. Esses filtros foram aplicados com o intuito de obter como resultado aqueles pesquisadores mais produtivos, com mais proximidade com a educação e com mais colaborações.

Foram encontrados incialmente 2.683 nomes que se encaixavam nesses critérios. Esse grupo também passou por uma filtragem para identificar os pesquisadores mais produtivos dentro de 21 áreas estratégicas em ciência para a educação, que são as seguintes: Educação, Psicologia, Sociologia, Antropologia, Saúde Coletiva, Nutrição, Morfologia, Bioquímica, Biologia Geral, Medicina, Linguística, Fonoaudiologia, Letras, Imunologia, Biofísica, Genética, Fisiologia, Farmacologia, Educação Física, Ciência da Computação e Enfermagem.

Ao final, o censo chegou a um grupo de aproximadamente 300 pesquisadores, representantes de 300 grupos de pesquisa que possuem alguma interface com educação.

censo_pesquisadores_grafo

Com os programas utilizados para realizar o censo, foi possível visualizar em grafos as redes de colaborações entre pesquisadores de diferentes áreas.

Plataforma CpE

Além de ajudar a trazer integrantes para a Rede CpE e traçar um panorama da ciência para educação no Brasil, o censo também gerou dados interessantes que subsidiaram a criação da Plataforma CpE, que permite realizar buscas online sobre ciência para educação. No sistema, que pode ser acessado gratuitamente, é possível cruzar os dados mais diversos sobre pesquisadores e publicações na área, gerando visualizações em forma de grafos que indicam as várias redes entre os pesquisadores brasileiros, revelando sua proximidade com determinadas áreas de estudo, pessoas, grupos de pesquisa e palavras-chaves. Os relatórios obtidos permitem avaliar, analisar e documentar a produção de grupos de pesquisa no Brasil.

A plataforma  é de grande utilidade para pesquisadores e educadores, mas também para agências de fomento, que poderão criar editais específicos para fomentar projetos em determinado problema da educação, já sabendo quais os grupos potencialmente capazes de colaborar nessa tarefa.

Neurociência x Educação

Com os dados do censo e a Plataforma CpE temos a possibilidade de fazer distintas investigações. Uma das experiências que já realizamos teve o intuito de mapear as interações entre pesquisadores das áreas de neurociência e de educação. No universo de 2.5718 pesquisadores, realizamos uma classificação de suas publicações em 3 categorias: neuro, educa e neuro+educa. Dessa forma, foi possível calcular o índice de proporção que mede o quanto cada pesquisador está inserido em cada área e de que forma eles colaboram.

Foram excluídos os pesquisadores de áreas consideradas não-prioritárias para o estudo, ou seja, que não são diretamente correlacionadas nem à neurociência, nem à educação. Foram elas: engenharias civil, elétrica e aeroespacial, zoologia, ecologia, microbiologia, zootecnia, agronomia, economia, administração, comunicação, artes, arquitetura e urbanismo, oceanografia, odontologia, probalidade e estatistica, parasitologia, quíica, recusos pesqueiros, robótica, recursos florestais, serviço social, teologia, sociologia, geografia e geociências.

A imagem mostra as aproximações e distâncias de pesquisadores de educação e de neurociências entre si.

A imagem mostra as aproximações e as distâncias de pesquisadores de educação e de neurociências entre si.

Nesse conjunto de pesquisadores, o ScripLattes foi executado para a extração da produção bibliográfica de todos, além da identificação de localização geográfica e de grafos de colaborações. Foi extraída toda a produção bibliográfica desse conjunto considerando todos os anos de publicação, o que nos dá uma ideia de tudo o que foi produzido na área de neuroeducação no Brasil desde 1967, quando os primeiros trabalhos relacionados ao tema foram publicados, como o “The effect of catecholamines on learning”, publicado em Medicina et Pharmacologia Experimentalis, por Merlo e Izquierdo e o “Fundamentos Psicopedagógicos para a Atividade Escolar de Criança Portadora de Paralisia Cerebral”, publicado na Revista Brasileira de Paralisia Cerebral, de Mathilde Neder.

O estudo identificou grupos intermediários que já atuam na ponte entre neurociência e educação e que poderão ser protagonistas no processo de aproximação entre os neurocientistas e os educadores.

Esse tipo de abordagem por área, pode ser feita com diversos temas. Realizamos também uma análise relacionada a competências socioemocionais identificando os principais pesquisadores na área, o que pode facilitar a formação de grupos de trabalho para propor soluções para os desafios da educação baseadas em evidências.

Confira aqui o relatório completo sobre o Censo